Há exatos dez anos caía nas minhas mãos O Alquimista [um dos livros mais famosos do Paulo Coelho]. Estava na 8ª série, cabecinha de vento cheia de sonhos e aspirações. Na época, achei um dos livros mais belos nos quais eu tinha lido até então, por incentivo de uma professora de português que lia trechos da obra nas aulas de literatura. Não entendia o porquê de tantas pessoas, especialmente escritores de peso, criticarem tanto esse senhor carioca mundialmente conhecido como o mago.
O tempo passa, muitos livros [e idéias] depois, pela mesma obra do acaso esse livro caiu nas minhas mãos outra vez. A senhora na qual me deu o livro disse que ia jogar fora. Eu, que já nem era mais fã do Paulo, por algumas razões simples e particulares, pedi que me desse o livro.
Enquanto folheio novamente as páginas, me lembro de um tempo em que as coisas eram mais leves, porque eu via o mundo de uma forma mais leve, talvez. Ao mesmo tempo, lembro de uma entrevista no Jô Soares e uma viagem que a Glória Maria fez com o mago na Rússia e a imagem de um homem simples caiu completamente por terra: minhas raízes ditas "socialistas", se é que posso chamar assim, se escandalizaram com um homem no qual falava de coisas tão simples e belas, contrastando com um estilo de vida apuradíssimo. A bem da verdade é que a imagem daquele senhor me pareceu soberba, arrogante.
No entanto, eu seria injusto em não ressaltar algumas coisas sobre ele:
a) ele escreve bem. Se assim não fosse, seus livros seriam verdadeiros fracassos literários.
b) suas obras falam de coisas que todo mundo sabe [se reparar bem, é uma junção de ditados e sabedorias que nossos antepassados praticavam], mas que poucos têm coragem de fazer: de viver e moldar sua vida, ter as rédeas do destino.
c) Ele é esperto: junta experiências próprias com a atual busca, ou o que poderíamos chamar de retorno ao sagrado [nunca se viu tanta busca nos dias de hoje a tantas práticas de cunho espiritual pra aliviar as dores do cotidiano ou em busca de uma razão pra vida].
E de onde é que tirei o menino das laranjas nisso?
É que hoje, enquanto estava trabalhando, essa composição gravada pela Elis Regina e Jair Rodrigues, tão simples, fala da vida dura de tantas pessoas que diante de muitas circunstâncias abandonam seus sonhos pra comer, beber. Deixam de acreditar que são capazes de ser muito mais do que podem ser. Sei sim que essa organização social colabora pouco pra promover a dignidade; é perniciosa, excludente e preconceituosa em grande parte.
Mas acredito sempre que há uma força estranha que emana do mais íntimo de nós todos os dias, de modo que façamos a seguinte pergunta, parafraseando a letra da música:
O QUE FAZER PARA A VIDA MELHORAR?
Por isso que estou lendo o alquimista. E justamente por essa análise particular [e mesmo não me simpatizando pela pessoa do Paulo Coelho] é que acho a obra simples, bacana, tocante.
"compra laranja doutor, e ainda dou uma de quebra pro senhor..."
[a letra e a música são ótimas, tá em qq beco da net]
bem, é isso...