domingo, 18 de fevereiro de 2007

Crônica de Carnaval


Ah! O carnaval! Essa época do ano singular...

A primeira referência que tive sobre o carnaval foi mais ou menos quando eu tinha uns 4 ou cinco anos. Minha mãe, que sempre adorou essa festa, fazia com que todos os filhos saíssem no bloco da cidade [Flor de Mamona, isso. O nome do bloco]. Lembro que eu tava doido pra mijar e minha mãe disse pra fazer as necessidades no meio da rua, da calçada. Afinal, criança, quem é que ia dizer alguma coisa? Chegaram até a tirar uma foto disso e sinceramente: ainda bem que deram fim nela.

Passaram-se alguns anos e eu devia ter uns 14 anos quando fui ver o desfile na cidadezinha onde morava. Qual foi minha surpresa em ver minha mãe vestida numa fantasia ridícula de oncinha, pulando que nem doida com um bando de mulherada e bicharada tresloucada. Meus amigos, meu irmão ali. E eu, escondendo a cara, morrendo de vergonha daquela cena, digamos, pitoresca. Mas ela estava lá, toda feliz, "tocando um foda-se" pra quem julgasse. Inclusive seu filho.

Interessante como durante muitos anos tentei veementemente ser a negação de minha mãe. Adolescente, sabe como é: só enxerga os defeitos dos pais, nunca as qualidades. Demorou muito tempo até perceber que herdei da minha mãe a melhor qualidade: aquele jeitão alegre, pouco importando se os outros iam ficar olhando torto.

Bem, onde estava?! Ah!

A bem da verdade é que sempre gostei de carnaval, mas por alguns pudores que eu mesmo inventei, ficava super na minha. Mesmo durante os primeiros quatro anos nos quais morei sozinho sempre tentava manter um pouquinho a pose com relação a muitas coisas, inclusive essa festa. Acho que eram os resquícios do que eu criei e que também muita gente e instituição contribuiu: de que o carnaval é uma verdadeira putaria, onde durante três ou quatro dias as pessoas faziam tudo o que era reprimido durante o ano todo, uma forma de controle social das elites pra manter a plebe acalmada [todo mundo diz que as coisas no Brasil só começam depois do carnaval. Se assim fosse, eu só ia começar a trabalhar em março, e não em 2 de janeiro. rs]. Pode até ser que em parte seja isso mesmo. Mas a essência desta festa é encantadora, até mesmo para quem não simpatiza muito com ela. Se tentássemos levar a vida com a mesma leveza de espírito, brincadeira, êxtase e positivismo que a festa proporciona, mais da metade de nossos problemas sumiriam. Simples assim.

Sexta-feira, quando me encontrei com o Vitor num barzinho, brindei por duas coisas: por um ano que conheço essa figurinha singular e por um ano de Curitiba. Me mudei pra cá justo na época do carnaval, pra uma cidade que nem tem tanta atração pela festa. Vai ver por isso que neste exato momento em que registro essas linhas, abro meu coração e mente, agradecendo pelas conquistas, desafios e dores e pedindo que eu enxergue a vida com a beleza do "batimcumbum". Mesmo com um empreguinho, me sentindo só e com enorme medo de encarar algum relacionamento.

Bem, é isso...


" É hoje o dia/da alegria/

E a tristeza/nem pode pensar em chegar/

Diga espelho meu/

Se há na avenida alguém mais feliz que eu..."

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