.... Et la foule vient me jeter entre ses bras....
[La Foule, música interpretada por Edith Piaf]
Um dia comum numa semana estranha. Uma semana estranha num contexto bastante previsível, de uma vida onde iniciou sem saber como, cresceu por teimosia e desenvolve-se com interesse, dentre tantos clássicos (estudar, ter dinheiro, namorar, casar, ter filhos, reconhecimento no trabalho, na sociedade, status quo), um apenas martela minha cabeça nesta quarta meio fria: de saber até que ponto minha passagem neste lugar faz alguma diferença.
Ao meu ver, esta nossa era é notável se comparada a todas as outras da história: a maioria das pessoas têm mais acesso a informação, alimentação e todo o bla bla bla que sabemos. Entretanto, não sei até que ponto "ruminamos" isto tudo.
Como os animais que mastigam exaustivamente a comida, tenho minhas dúvidas se eu apreendo tanta coisa que recebo.
A gente levanta, escova os dentes, veste a roupa, ouve as mesmas músicas no mp3 (ou por preguiça de procurar mais coisas e atualizar sempre a playlist, ou por um saudosismo, ou ainda porque elas estão tão arraigadas que já fizeram parte de uma rotina aparentemente estática), vai trabalhar, estuda, come, telefona, namora um pouquinho, vê um filmezinho, vai ao teatro, dança, vê tv, vê os dias passarem rápido demais, lê um monte de coisas, tecla exaustivamente na internet. Passa a semana! Passam-se as horas, minutos, segundos, milésimos de segundo. E as mesmas preocupações, pessoas, lugares, rotinas, afazeres e questionamentos da semana. SEM AO MENOS RUMINAR TUDO ISTO.
Desde que escrevo aqui, seja por vaidade mesmo, ou desabafo, olho a mediocridade como algo negativo, até porque essa palavra sempre têm a conotação de algo ruim.
Hoje, e tão somente hoje, tenho inveja dos medíocres.
Pessoas nas quais rotulamos com esse título, segundo uma definição nossa, são aquelas que tem uma vidinha, sem se preocuparem com as questões sociais, as revoluções, uma evolução, a informação. Eu, por ter curso superior, morar numa cidade grande, conhecer mta gente, "preocupar-se" com as grandes questões mundiais sempre achei q era melhor do que esta gentinha. Ledo engano.
Engano porque recebo tanta coisa e mal tenho tempo de desfrutar tudo isto e viver, tão somente viver, sem falsidades, euforias demasiadas, rosário de tristezas, moralismos. Viver, tão somente isto. De consciência tranquila. Saborear cada minuto da semana, seja ela boa ou uma verdadeira bosta.
Tenho inveja destas pessoas nas quais chamo de medíocres. Elas podem ter a visão limitada de muitas coisas, mas sabem muito bem o que vê. Minha visão pode ser grande, mas simplesmente não aprendi o que fazer com ela, o que interpretar de tudo isto.
Que razões eu creio para viver? Qual a razão para decidir? Qual a razão para agir?
Pelo menos hoje, e tão somente hoje, mesmo que amanhã tudo esteja igual, quero educar meu olhar para a calma, a simplicidade. Ou a mediocridade. Tanto faz, podemos dar o nome disto o que quiser.
Azúcar!